A
comunidade de Flecheiras tem como
principal economia o Eco Turismo de Base Comunitária, nosso principal atrativo
é a paisagem, composta por dunas brancas, aeleonitos (popularmente conhecido
como “Cascudos”) e uma extensa praia. A
instalação de parques eólicos sobre o nosso campo de dunas, é sinônimo de
destruição de um patrimônio natural e cultural. Trazendo sérias consequências
ambientais, econômicas e culturais. No campo ambiental além do desmonte de
dunas, que são terraplenadas, fixadas, fragmentadas, desmatadas, compactadas, alteradas
a morfologia, topografia e fisionomia, pois se faz necessário a manutenção de
uma rede de vias de acesso para cada um dos aerogeradores e resguardar a base
dessas estruturas da erosão eólica, temos também o
aterramento de lagoas, e o desequilíbrio
do ecossistema com interferência na rota de aves migratórias. As dunas representam reservas
estratégicas de sedimentos, água, paisagens e ecossistemas que desempenham
relações sócio-econômicas vinculadas ao uso ancestral e sustentável das
comunidades litorâneas e étnicas. São de interesse direto dos turistas que vêm
conhecer paisagens únicas no planeta. Os impactos visuais causados pela
instalação dos aerogeradores são irreversível, além de descaracterizar
fisicamente a nossa terra. Economicamente com a descaracterização de nossa
paisagem, corremos o risco da desqualificação do destino turístico, já que
nossa comunidade será apenas mais uma padronizada com um enorme paredão de
aerogeradores, como outras comunidades no nosso litoral. Com o declínio do
Turismo haverá uma taxa de desemprego, aumento da pobreza e outros fatores que
estão correlacionados. Sabemos que As eólicas não geram trabalho e renda e,
colocadas sobre nossos atrativos naturais e turísticos, espantarão o turismo de
boa qualidade, aquele que vem de fora e constrói postos de trabalho, contrata
passeios de buggy, compra artesanato, se hospeda, patrocina projetos
socio-educacionais, valoriza artistas da terra, come nos restaurantes etc. Se
dependemos desse turismo para sobreviver por que permitir que as eólicas sejam
colocadas justamente em cima de nossos símbolos-atrativos turísticos?!!!!! De
nossas riquezas e patrimônios ECOLÓGICOS?!!! Enquanto que o município de Trairi
possui uma área de aproximadamente 924,56 Km², que corresponde a 0,62% do
território do Estado do Ceará. Existem outros locais com elevado potencial
eólico entretanto, descartados pelo fato de ter-se levado em conta
exclusivamente os custos econômicos na decisão de ocupar as dunas. Inexiste um
plano regional para definir áreas mais adequadas para esta importante e
necessária fonte de energia limpa e renovável. Mais uma vez não foram levados
em conta os princípios da precaução, da prevenção, do direito humano
fundamental e da manutenção da diversidade de paisagens e da biodiversidade dos
ecossistemas costeiros. A indústria da ``energia limpa`` está conduzindo um
provável ``apagão`` das dunas do litoral cearense.
FLECHEIRAS - Palavra indígena derivado de FLECHA - com significado de "MULHERES GUERREIRAS" ou "Mulheres atiradoras de Flechas" Linda por natureza, um paraíso, que vem sofrendo a destruição de suas dunas e outros ecossistemas... uma prova disso é observar seu magnífico campo de dunas, hoje modificado para implantação de cataventos gigantes,sem ouvir o apelo da comunidade que gritava... EÓLICAS NAS DUNAS NÃO!!
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quinta-feira, 10 de outubro de 2013
1° parte - IMPACTOS AMBIENTAIS PROMOVIDOS PELA IMPLANTAÇÃO E OPERAÇÃO DE USINAS EÓLICAS EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP`s) – OS CAMPOS DE DUNAS FIXAS E MÓV EIS DA PLANÍCIE COSTEIRA DO CUMBE, MUNICÍPIO DE ARACATI.
O
campo de dunas destinado à construção de 3 usinas eólicas da empresa Bons
Ventos,
localizado no município de Aracati, entre a praia de Canoa Quebrada e a localidade do
Cumbe, terá seus componentes ambientais de preservação permanente, ecológicos e
arqueológicos profundamente alterados. Com a remoção de grandes volumes de areia
(com o desmatamento de dunas fixas), atividades de terraplenagem, artificialização
da morfologia (alterada naturalmente pela contínua ação dos ventos), alteração
generalizada na topografia (artificialização do relevo dunar) e a implantação de uma
rede de vias de acesso (interligando um total de 67 aerogeradores), serão gerados
impactos ambientais negativos de elevada magnitude.
localizado no município de Aracati, entre a praia de Canoa Quebrada e a localidade do
Cumbe, terá seus componentes ambientais de preservação permanente, ecológicos e
arqueológicos profundamente alterados. Com a remoção de grandes volumes de areia
(com o desmatamento de dunas fixas), atividades de terraplenagem, artificialização
da morfologia (alterada naturalmente pela contínua ação dos ventos), alteração
generalizada na topografia (artificialização do relevo dunar) e a implantação de uma
rede de vias de acesso (interligando um total de 67 aerogeradores), serão gerados
impactos ambientais negativos de elevada magnitude.
Para
controlar o processo de migração das dunas na direção da elevada densidade
de estradas sobre as dunas (de modo a não inviabilizar o tráfego de veículos pesados e
os destinados à manutenção e monitoramento), e evitar o acesso e acúmulo de areia
nas estruturas edificadas, irão ser procedidas intervenções na fase de operação, com a
continuidade dos impactos negativos.
de estradas sobre as dunas (de modo a não inviabilizar o tráfego de veículos pesados e
os destinados à manutenção e monitoramento), e evitar o acesso e acúmulo de areia
nas estruturas edificadas, irão ser procedidas intervenções na fase de operação, com a
continuidade dos impactos negativos.
Os
danos ambientais também são relacionados com abertura de trincheiras para
instalação
de uma rede subterrânea de cabos elétricos, A qual deverá ser mantida soterrada na fase
de operação e com a necessidade de serem protegidas da erosão eólicas, também serão
vinculadas a obras de engenharia que alteram a dinâmica do sistema dunar.
de uma rede subterrânea de cabos elétricos, A qual deverá ser mantida soterrada na fase
de operação e com a necessidade de serem protegidas da erosão eólicas, também serão
vinculadas a obras de engenharia que alteram a dinâmica do sistema dunar.
Todo
o conjunto de impactos ambientais negativos definidos na área de influência
direta
das usinas é incrementado com a possibilidade de implantação e operação
de mais 34
centrais eólicas (ANEEL, 2003)
distribuídas generalizadamente na planície costeira cearense.
Os impactos,
quando analisados de forma cumulativa e espacializados de modo a
fragmentar
sistemas dunares e ecossistemas associados, não estão associados à aplicação do princípio da prevenção. Estes impactos cumulativos, quando analisados a partir
dos critérios de proteção dos sistemas ambientais elaborados pelo último
relatório do IPCC (2007
– sigla em inglês Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), e descritos ao longo da área de influencia direta do empreendimento afetam diretamente
as funções das dunas fixas e móveis, áreas úmidas e dinâmica ambiental da planície
costeira, que atua diretamente no amortecedores das conseqüências do aquecimento global.
Desta forma, a instalação das usinas eólicas, com previsão de alcançar extensas áreas sobre as dunas do litoral cearense, carece de pesquisas acerca dos impactos cumulativos, definição de alternativas locacionais, efetividade das medidas mitigadoras superficialmente apresentadas nos relatórios ambientais simplificados (RAS) e as contradições na produção de “energia limpa” e a degradação de sistemas ambientais definidos pela legislação como de preservação permanente.
A
comunidade do Cumbe, ancestralmente vinculada aos benefícios ambientais
associados
à disponibilidade de água potável das dunas (com centenas de nascentes que
deságuam no rio Jaguaribe), usufruto tradicional da biodiversidade associada e
dependente da qualidade dos ecossistemas dunar e manguezal, com
à disponibilidade de água potável das dunas (com centenas de nascentes que
deságuam no rio Jaguaribe), usufruto tradicional da biodiversidade associada e
dependente da qualidade dos ecossistemas dunar e manguezal, com
propostas de utilização do campo de dunas do Cumbe para atividades econômicas
sustentáveis (dependentes da preservação da diversidade de paisagem e
continuidade dos processos naturais das dunas), e historicamente protetora e
guardiã do mais importante sítio arqueológico de nosso estado, foi completamente excluída do processo de licenciamento da usina eólica. Trata-se
de impactos negativos associados à diminuição da qualidade de vida de
pescadores, marisqueiras e demais grupos sociais envolvidos na preservação
ambiental e articulados para a sustentabilidade de seus ecossistemas de
subsistência.
Cont. 2° parte - IMPACTOS AMBIENTAIS PROMOVIDOS PELA IMPLANTAÇÃO E OPERAÇÃO DE USINAS EÓLICAS EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP`s) – OS CAMPOS DE DUNAS FIXAS E MÓV EIS DA PLANÍCIE COSTEIRA DO CUMBE, MUNICÍPIO DE ARACATI.
Através
de estudos realizados em campos de dunas impactados pela implantação de usinas
eólicas, constatou-se impactos negativos de elevada magnitude. Verificou-se
também que foram potencializados na fase de operação. À continuação uma síntese
dos impactos:
1.
Desmatamento das dunas fixas
2.
Soterramento de dunas fixas pelas atividades de terraplenagem
3.
Soterramento de lagoas interdunares
4.
Cortes e aterros nas dunas fixas e móveis
5.
Áreas a serem terraplenadas para a construção das vias de acesso
6.
Introdução de material sedimentar para impermeabilização e
compactação
do solo
7.
Instalação dos aerogeradores
8.
Destruição de sítios arqueológicos
A
implantação das usinas eólicas sobre os campos de dunas, a exemplo do realizado
nas dunas do Cumbe, foi fundamentalmente associada ao fator altitude em relação
ao nível do mar e disponibilidade dos ventos. Em média, as dunas do estado do
Ceará encontram-se a 50m acima da linha de praia, o que facilita a captação do
vento com menores índices de rugosidade (turbulência das massas de ar em
contato com o relevo terrestre). Desta forma, o principal indicar locacional
nos parece ser o relacionado à altitude da superfície receptora dos
aerogeradores, em detrimento da proteção dos componentes morfológicos, serviços
ambientais e ecossistemas associados aos campos de dunas.
É importante salientar que o mapa de potencial para a produção de energia eólica publicado pela ANEEL em 2003, define uma larga faixa costeira com excelente potencial para a implantação de usinas eólicas, ultrapassando o campo de dunas e sobre a unidade geoambiental denominada de tabuleiro litorâneo. O conjunto das ações de degradação dos campos de dunas do Cumbe já interfere diretamente nos processos ambientais relacionados com a dinâmica dos campos de dunas, suprimindo funções que se integram com os demais sistemas ambientais costeiros. Desta forma, com os impactos promovidos pela instalação e operação das usinas eólicas sobre as dunas fixas e móveis e emlocais antes ocupados por lagoas interdunares, poderão ser suprimidas funções e serviços
relacionados com:
É importante salientar que o mapa de potencial para a produção de energia eólica publicado pela ANEEL em 2003, define uma larga faixa costeira com excelente potencial para a implantação de usinas eólicas, ultrapassando o campo de dunas e sobre a unidade geoambiental denominada de tabuleiro litorâneo. O conjunto das ações de degradação dos campos de dunas do Cumbe já interfere diretamente nos processos ambientais relacionados com a dinâmica dos campos de dunas, suprimindo funções que se integram com os demais sistemas ambientais costeiros. Desta forma, com os impactos promovidos pela instalação e operação das usinas eólicas sobre as dunas fixas e móveis e emlocais antes ocupados por lagoas interdunares, poderão ser suprimidas funções e serviços
relacionados com:
1.
Controle da erosão
2.
Alterações na dinâmica hidrostática e disponibilidade de água doce do aqüífero
dunar
3.
São alterados os benefícios derivados dos processos ecológicos
4.
Funções relacionadas com a extinção de suporte físico associado às dunas,
planície de aspersão e lagoas interdunares (conseqüentementeaos demais ecossistemas
costeiros associados), são suprimidas através das profundas transformações topográficas e as atividades de cortes e aterros.
planície de aspersão e lagoas interdunares (conseqüentementeaos demais ecossistemas
costeiros associados), são suprimidas através das profundas transformações topográficas e as atividades de cortes e aterros.
5.
Os serviços econômicos relacionados com os atrativos naturais (paisagem,
ecodinâmica,
biodiversidade) que orientam a tomada de decisão para a implantação de atividades turísticas sustentáveis, turismo comunitário e ecoturismo, serão minimizados.
biodiversidade) que orientam a tomada de decisão para a implantação de atividades turísticas sustentáveis, turismo comunitário e ecoturismo, serão minimizados.
6.
Irreversibilidade das reações ambientais vincula das ao processo contínuo de
alteração da dinâmica dos campos de dunas.
7.
Fragmentação dos serviços ambientais relacionados com a integração das dunas
com os demais ecossistemas.
8.
Supressão dos serviços vinculados ao amortecimento das conseqüências do
aquecimento global previstas pelo relatório publicado pelo IPCC
(Intergovernmental Panel on Climate Change) em fevereiro de 2007.
9.
Extinção e/ou danos irreversíveis ao principal sítio arqueológico, danos de
elevada magnitude à pesquisa científica. Perda de informação arqueológicas
imprescindíveis à compreensão do processo de povoamento do litoral cearense.
Com a importância dos serviços ambientais e a manutenção dos aspectos
ambientais demonstrados acima (dinâmica morfológica das dunasmóveis, cobertura
vegetal das dunas fixas e seus potenciais de amortecimento das conseqüências previstas pelo aquecimento global), a utilização generalizada das dunas, deverá
ser precedida da realização de estudos integrados para a definição dos impactos
cumulativos e alternativas locacionais.
Verificou-se também que os estudos realizados para a implantação destes equipamentos
industriais sobre áreas de preservação permanente, levaram em conta somente os indicadores de “potencial eólico” (em escala regional) sem a realização de estudos para a determinação das interferências relacionadas com os aspectos enumerados à continuação:
Verificou-se também que os estudos realizados para a implantação destes equipamentos
industriais sobre áreas de preservação permanente, levaram em conta somente os indicadores de “potencial eólico” (em escala regional) sem a realização de estudos para a determinação das interferências relacionadas com os aspectos enumerados à continuação:
1.
Conjunto de impactos negativos provocados por alterações na morfologia dos
campos de
dunas móveis e fixas e interferências no processo de migração desencadeados na fase de
implantação dos aerogeradores.
dunas móveis e fixas e interferências no processo de migração desencadeados na fase de
implantação dos aerogeradores.
2.
Conjunto de impactos negativos introduzidos na fase de implantação e
relacionados
com a degradação de ecossistemas de preservação permanente associados ao campo de dunas.
com a degradação de ecossistemas de preservação permanente associados ao campo de dunas.
3.
Conjunto de impactos negativos integrados com as fases de implantação e
operação para viabilizar a continuidade de implantação e monitoramento dos
aerogeradores com a construção de uma elevada densidade de vias de acesso (com
o tráfego de caminhões, tratores e gruas), manutenção das vias de acesso
(utilizadas na fase de operação para o monitoramento e conservação dos
aerogeradores) e as áreas destinadas aos equipamentos de controle e
acompanhamento dos aerogeradores;
4.
Os impactos negativos relacionados com os ruídos dos rotores, os visuais e
interferências nas rotas de aves migratórias são acrescidos com os promovidos
pelo tráfego de veículos (coleta de dados e manutenção dos aerogerados), de
tratores para a retirada dos corpos dunares que migram na direção dos
aerogeradores e vias de acesso e manutenção constante das áreas fixadas
(impedir a movimentação das areias sobre as vias de acesso e demais
edificações).
5.
As evidências arqueológicas definidas em vários campos de dunas serão
profundamente impactadas, com prejuízos incalculáveis para a pesquisas
relacionadas com a ocupação da zona costeira.Este conjunto de impactos
negativos deverá ser utilizado para redirecionar o processo de licenciamento de usinas eólicas para setores não ocupados por dunas móveis e fixas. Constatou-se
que o elevado número de impactos negativos, não foi evidenciado, tanto pelo
empreendedor como por parte do órgão licenciador, mesmo para a emissão de
licenças a partir dos Relatórios Ambientais Simplificados (RAS). Constatou-se ainda, através dos estudos realizados por diversos pesquisadores da zona
costeira e dos ecossistemas associados, que certamente os impactos ambientais
serão potencializados na fase de operação dos equipamentos (continuidade da
alteração dos componentes ambientais e ecológicos do campo de dunas e demais
sistemas litorâneos e estuarinos). Esta seqüência de danos ambientais em áreas
de preservação permanente (APP’s), demonstra a fragilidade do instrumento de
licenciamento utilizado para emissão da licença de instalação das usinas
eólicas. A complexidade do conjunto de morfologias impactadas pelo desmonte de
dunas fixas e móveis e a continuidade dos impactos na fase de operação
(principalmente para controlar o processo de migração natural das dunas na direção dos aerogeradores , rede de vias de acesso e de monitoramento dos cabos subterrâneos e demais equipamentos projetados), demonstraram que o Relatório Ambiental Simplificado (RAS) foi completamente inadequado .A definição e avaliação dos impactos, aqui tratados de forma resumida, demonstraram que as intervenções já realizadas nas dunas para a instalação das usinas, promoveram danos socioambientais de elevada magnitude.Portanto, com a constatação da inexistência de alternativas locacionais,levando em conta a aplicação da legislação que definem as APP’s, manutenção da dinâmica das dunas e preservação da diversidade de paisagens (com as funções e serviços socioambientais) e da biodiversidade vinculada à planície costeira, o discurso da “energia limpa”, propalado pelos empreendedores, está completamente desassociado da proteção e preservação de um dos mais importantes sistemas ambientais da zona costeira cearense.Finalmente, as comunidades tradicionais litorâneas, indígenas, quilombolas, ribeirinhas e de camponeses, usuárias ancestrais da biodiversidade e da diversidade de paisagens, dependentes diretamente da qualidade ambiental para a continuidade de suas atividades de subsistência,mais uma vez estão sendo submetidas a injustiças ambientais. Como estão cada vez mais articuladas com instituições de pesquisa, associações nacionais e internacionais de proteção do meio ambiente, devem ser amplamente consultadas e suas propostas de conservação e preservação dos ecossistemas costeiros,
plenamente incorporadas na tomada de decisão para a implantação das usinas eólicas, principalmente quando se constata a utilização inadequada de áreas de preservação permanente e a promoção de danos de elevada magnitude aos modos de vida comunitário e à base ecológica, cultural, histórica, simbólica e econômica que promovem a qualidade de vida e ambiental da zona costeira cearense.
(principalmente para controlar o processo de migração natural das dunas na direção dos aerogeradores , rede de vias de acesso e de monitoramento dos cabos subterrâneos e demais equipamentos projetados), demonstraram que o Relatório Ambiental Simplificado (RAS) foi completamente inadequado .A definição e avaliação dos impactos, aqui tratados de forma resumida, demonstraram que as intervenções já realizadas nas dunas para a instalação das usinas, promoveram danos socioambientais de elevada magnitude.Portanto, com a constatação da inexistência de alternativas locacionais,levando em conta a aplicação da legislação que definem as APP’s, manutenção da dinâmica das dunas e preservação da diversidade de paisagens (com as funções e serviços socioambientais) e da biodiversidade vinculada à planície costeira, o discurso da “energia limpa”, propalado pelos empreendedores, está completamente desassociado da proteção e preservação de um dos mais importantes sistemas ambientais da zona costeira cearense.Finalmente, as comunidades tradicionais litorâneas, indígenas, quilombolas, ribeirinhas e de camponeses, usuárias ancestrais da biodiversidade e da diversidade de paisagens, dependentes diretamente da qualidade ambiental para a continuidade de suas atividades de subsistência,mais uma vez estão sendo submetidas a injustiças ambientais. Como estão cada vez mais articuladas com instituições de pesquisa, associações nacionais e internacionais de proteção do meio ambiente, devem ser amplamente consultadas e suas propostas de conservação e preservação dos ecossistemas costeiros,
plenamente incorporadas na tomada de decisão para a implantação das usinas eólicas, principalmente quando se constata a utilização inadequada de áreas de preservação permanente e a promoção de danos de elevada magnitude aos modos de vida comunitário e à base ecológica, cultural, histórica, simbólica e econômica que promovem a qualidade de vida e ambiental da zona costeira cearense.
Fortaleza, 17 de abril de 2008
Antonio
Jeovah de Andrade Meireles
Prof.
Dr. do Departamento de Geografia
Universidade
Federal do Ceará (UFC)
http://wp2.oktiva.com.br/portaldomar-bd/files/2010/08/usinasEolicas_impactos__CUMBE2.pd
terça-feira, 3 de setembro de 2013
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
Instalação de usinas eólicas vira salvo-conduto para destruição de dunas, lagoas e vegetação
Comunidades no Ceará e Rio Grande do Norte denunciam: instalação de usinas eólicas virou salvo-conduto para destruição de dunas, lagoas e vegetação.
Da casa pobre, sem eletricidade, o pescador José Nazário da Silva, de 49 anos, vê os cataventos gigantes, cravados nas dunas de Canoa Quebrada, em Aracati (CE). Os geradores de energia eólica estão a 300 metros para lembrar o pescador do desmatamento que marcou a chegada da usina e dos empregos que a empresa não trouxe para a região. Do outro lado da cidade, no Cumbe, o catador de caranguejos Ronaldo Gonzaga, de 32 anos, aponta para os cabos de energia expostos no Parque Eólico Aracati, com 67 torres, e mostra dunas destruídas por estradas e lugares de onde sítios arqueológicos foram removidos para dar lugar à geração de energia.
A reportagem é de Wilson Tosta e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 02-06-2013.
A 250 km dali, conselheiros da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Ponta do Tubarão (RN) exibem uma lagoa seca. A água foi retirada para a construção das eólicas Alegria II e Miassaba II, plantada sobre um talude construído em uma restinga, que dificultou o acesso ao mar.
Considerada ambientalmente limpa, por não emitir gases-estufa em sua produção, a energia eólica virou alvo de protestos de moradores de pequenas comunidades, sobretudo no litoral do Ceará e do Rio Grande do Norte. Eles acusam as novas usinas de usar a alegação de produzir energia ecologicamente correta como pretexto para aterrar dunas, derrubar matas, fechar praias, secar lagoas. Os empregos prometidos, segundo eles, até hoje não apareceram. E, como anfitriões das usinas, os moradores dizem nunca ter recebido compensações significativas e compatíveis com os danos que elas causam ao seu redor.
Estudioso dos conflitos socioambientais ao longo da zona costeira, o professor Jeovah Meireles, da Universidade Federal do Ceará, questiona até que ponto a energia eólica pode ser considerada ecologicamente correta, pelo menos da forma como tem sido implantada em alguns pontos do Brasil. "Que energia limpa é essa?", pergunta. "Primeiro, não estamos pagando menos. Toda a energia está saindo daqui e não temos o menor benefício com isso", diz o professor. "É a monocultura eólica", diz, em referência às plantações de cana-de-açúcar que dominaram a região por séculos.
Um giro pelas estradas da região do litoral cearense e potiguar mostra que a declaração de Meireles vai além da força de expressão. As torres de eólicas tomaram conta da paisagem do litoral nordestino. É assim, por exemplo, na RDS Ponta do Tubarão, uma zona de exploração sustentável criada em 2003 após quase uma década de mobilização de ativistas e moradores - inicialmente, contra uma tentativa de estabelecer um resort, depois contra a criação de camarões em cativeiro em manguezais. Quem avança pelo Rio Tubarão vê as torres girando dos dois lados. São as usinas de Miassaba II e Alegria II. Há outras perto.
Os problemas relatados por moradores na Ponta do Tubarão são muitos. A Lagoa do Carnaubal, por exemplo, resistiu à seca, mas não à construção das eólicas. "Aqui era uma lagoa. Para fazer a estrada, tiraram muita água dela, com carros-pipa. O resultado é que a lagoa secou", diz Luiz Ribeiro, conselheiro da RDS. Ele conta que, diariamente, tiravam mais de 20 carros-pipa dali. A queixa não é isolada. Em outros pontos do Nordeste, há denúncias de aterramento de lagoas e uso predatório da água pelas construtoras que montam as eólicas.
Em um relatório de 2009, o Conselho Gestor da RDS potiguar, traz uma lista de pontos que deveriam ser considerados para concessão de licença prévia. Entre eles, está o impacto "ambiental no que diz respeito ao movimento de terra e aterramento das lagoas e das dunas".
Outro ponto que chama a atenção na Ponta do Tubarão é o talude de dois metros, erigido na restinga, onde o areal entre o "rio" e o mar foi estabilizado e recebeu a fila de torres. A "muralha" dificulta o trabalho dos pescadores. Eles dizem que ficou muito difícil voltar do mar com o balaio de peixes nas costas e escalar o "muro". Recentemente, fizeram acessos para facilitar a subida, considerados insuficientes pelos pescadores.
Pescaria
Ao leme do barco que avança pelo Rio Tubarão, Luiz Luna Filho, pescador há 25 anos, reclama das mudanças na restinga. "Isso aqui era cheio de dunas. Mexeram tanto que, em alguns lugares, o pescador não consegue mais puxar a rede", afirma, referindo-se à rede com três malhas diferentes, típica da região. "Fica difícil a pescaria assim." Segundo ele, alguns animais e pássaros sumiram. A causa provável é o barulho dos aerogeradores, um zumbido surdo e constante. O relatório do Conselho Gestor já alertava em 2009 que parte do projeto do Parque Eólico Miassaba estava dentro de uma área de desova de tartarugas marinhas e de circulação de pescadores.
Outra pesquisa anterior à instalação de eólicas falava dos sítios arqueológicos na região das usinas. O local começou a ser ocupado com a chegada dos primeiros pescadores marisqueiros entre 5 mil e 6 mil anos atrás. Arqueólogos da região recomendaram "a não execução de empreendimentos de qualquer natureza nesse trecho". A Bons Ventos, porém, contratou outros arqueólogos, que retiraram mais de 40 mil peças, encaminhadas ao Museu Câmara Cascudo, no Rio Grande do Norte, e pôs de pé as usinas.
O professor João Luiz do Nascimento, o João do Cumbe, é um dos principais líderes dos protestos contra os danos causados pelas usinas. Ele já liderou três bloqueios na região, um deles por 19 dias. Uma das principais queixas são os empregos prometidos. "Chegaram dizendo que iam gerar 1,5 mil empregos. Não tem 600 pessoas lá." O professor diz ter sofrido uma tentativa de sequestro por estar à frente dessa causa. Ele foi incluído no Programa de Proteção às Defensoras e Defensores de Direitos Humanos do governo federal e se afastou da comunidade.
A percepção de que a chegada das eólicas é negativa, contudo, não é unânime. Em algumas comunidades, um número maior de pequenos proprietários passou a alugar terrenos para a instalação das torres, o que mexeu com a economia local, que passou a receber o que antes quase não tinha: dinheiro. "A terra não produzia nada. Hoje eles alugam. Melhorou a situação", diz a comerciante Maria do Socorro Miranda, vestida com uma camisa da eólica de Alegria.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/520611-energia-limpa-e-alvo-de-ambientalistas
Da casa pobre, sem eletricidade, o pescador José Nazário da Silva, de 49 anos, vê os cataventos gigantes, cravados nas dunas de Canoa Quebrada, em Aracati (CE). Os geradores de energia eólica estão a 300 metros para lembrar o pescador do desmatamento que marcou a chegada da usina e dos empregos que a empresa não trouxe para a região. Do outro lado da cidade, no Cumbe, o catador de caranguejos Ronaldo Gonzaga, de 32 anos, aponta para os cabos de energia expostos no Parque Eólico Aracati, com 67 torres, e mostra dunas destruídas por estradas e lugares de onde sítios arqueológicos foram removidos para dar lugar à geração de energia.
A reportagem é de Wilson Tosta e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 02-06-2013.
A 250 km dali, conselheiros da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Ponta do Tubarão (RN) exibem uma lagoa seca. A água foi retirada para a construção das eólicas Alegria II e Miassaba II, plantada sobre um talude construído em uma restinga, que dificultou o acesso ao mar.
Considerada ambientalmente limpa, por não emitir gases-estufa em sua produção, a energia eólica virou alvo de protestos de moradores de pequenas comunidades, sobretudo no litoral do Ceará e do Rio Grande do Norte. Eles acusam as novas usinas de usar a alegação de produzir energia ecologicamente correta como pretexto para aterrar dunas, derrubar matas, fechar praias, secar lagoas. Os empregos prometidos, segundo eles, até hoje não apareceram. E, como anfitriões das usinas, os moradores dizem nunca ter recebido compensações significativas e compatíveis com os danos que elas causam ao seu redor.
Estudioso dos conflitos socioambientais ao longo da zona costeira, o professor Jeovah Meireles, da Universidade Federal do Ceará, questiona até que ponto a energia eólica pode ser considerada ecologicamente correta, pelo menos da forma como tem sido implantada em alguns pontos do Brasil. "Que energia limpa é essa?", pergunta. "Primeiro, não estamos pagando menos. Toda a energia está saindo daqui e não temos o menor benefício com isso", diz o professor. "É a monocultura eólica", diz, em referência às plantações de cana-de-açúcar que dominaram a região por séculos.
Um giro pelas estradas da região do litoral cearense e potiguar mostra que a declaração de Meireles vai além da força de expressão. As torres de eólicas tomaram conta da paisagem do litoral nordestino. É assim, por exemplo, na RDS Ponta do Tubarão, uma zona de exploração sustentável criada em 2003 após quase uma década de mobilização de ativistas e moradores - inicialmente, contra uma tentativa de estabelecer um resort, depois contra a criação de camarões em cativeiro em manguezais. Quem avança pelo Rio Tubarão vê as torres girando dos dois lados. São as usinas de Miassaba II e Alegria II. Há outras perto.
Os problemas relatados por moradores na Ponta do Tubarão são muitos. A Lagoa do Carnaubal, por exemplo, resistiu à seca, mas não à construção das eólicas. "Aqui era uma lagoa. Para fazer a estrada, tiraram muita água dela, com carros-pipa. O resultado é que a lagoa secou", diz Luiz Ribeiro, conselheiro da RDS. Ele conta que, diariamente, tiravam mais de 20 carros-pipa dali. A queixa não é isolada. Em outros pontos do Nordeste, há denúncias de aterramento de lagoas e uso predatório da água pelas construtoras que montam as eólicas.
Em um relatório de 2009, o Conselho Gestor da RDS potiguar, traz uma lista de pontos que deveriam ser considerados para concessão de licença prévia. Entre eles, está o impacto "ambiental no que diz respeito ao movimento de terra e aterramento das lagoas e das dunas".
Outro ponto que chama a atenção na Ponta do Tubarão é o talude de dois metros, erigido na restinga, onde o areal entre o "rio" e o mar foi estabilizado e recebeu a fila de torres. A "muralha" dificulta o trabalho dos pescadores. Eles dizem que ficou muito difícil voltar do mar com o balaio de peixes nas costas e escalar o "muro". Recentemente, fizeram acessos para facilitar a subida, considerados insuficientes pelos pescadores.
Pescaria
Ao leme do barco que avança pelo Rio Tubarão, Luiz Luna Filho, pescador há 25 anos, reclama das mudanças na restinga. "Isso aqui era cheio de dunas. Mexeram tanto que, em alguns lugares, o pescador não consegue mais puxar a rede", afirma, referindo-se à rede com três malhas diferentes, típica da região. "Fica difícil a pescaria assim." Segundo ele, alguns animais e pássaros sumiram. A causa provável é o barulho dos aerogeradores, um zumbido surdo e constante. O relatório do Conselho Gestor já alertava em 2009 que parte do projeto do Parque Eólico Miassaba estava dentro de uma área de desova de tartarugas marinhas e de circulação de pescadores.
Outra pesquisa anterior à instalação de eólicas falava dos sítios arqueológicos na região das usinas. O local começou a ser ocupado com a chegada dos primeiros pescadores marisqueiros entre 5 mil e 6 mil anos atrás. Arqueólogos da região recomendaram "a não execução de empreendimentos de qualquer natureza nesse trecho". A Bons Ventos, porém, contratou outros arqueólogos, que retiraram mais de 40 mil peças, encaminhadas ao Museu Câmara Cascudo, no Rio Grande do Norte, e pôs de pé as usinas.
O professor João Luiz do Nascimento, o João do Cumbe, é um dos principais líderes dos protestos contra os danos causados pelas usinas. Ele já liderou três bloqueios na região, um deles por 19 dias. Uma das principais queixas são os empregos prometidos. "Chegaram dizendo que iam gerar 1,5 mil empregos. Não tem 600 pessoas lá." O professor diz ter sofrido uma tentativa de sequestro por estar à frente dessa causa. Ele foi incluído no Programa de Proteção às Defensoras e Defensores de Direitos Humanos do governo federal e se afastou da comunidade.
A percepção de que a chegada das eólicas é negativa, contudo, não é unânime. Em algumas comunidades, um número maior de pequenos proprietários passou a alugar terrenos para a instalação das torres, o que mexeu com a economia local, que passou a receber o que antes quase não tinha: dinheiro. "A terra não produzia nada. Hoje eles alugam. Melhorou a situação", diz a comerciante Maria do Socorro Miranda, vestida com uma camisa da eólica de Alegria.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/520611-energia-limpa-e-alvo-de-ambientalistas
Parques eólicos desestruturam a dinâmica ambiental e ecológica do litoral. Entrevista especial com Antônio Jeovah de Andrade Meireles
http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/522069-parques-eolicos-desestruturam-a-dinamica-ambiental-e-ecologica-do-litoral-entrevista-especial-com-antonio-jeovah-de-andrade-meireles
“Os parques eólicos estão causando a erosão das praias, e o mar já está batendo nos aerogeradores”, alerta o geógrafo.
Confira a entrevista.
Considerada pelos especialistas uma fonte renovável, a energia
eólica, que não emite gases de efeito estufa durante sua operação, tem
sido objeto de estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará, entre eles, Antônio Jeovah de Andrade Meireles, após serem identificados impactos ambientais por conta do funcionamento e instalação dos parques eólicos na região litorânea. Em entrevista concedida à IHU On-Line por telefone, o geógrafo apresenta os primeiros resultados
das pesquisas que verificaram impactos socioambientais na região
nordeste, onde estão instalados parques eólicos. De acordo com ele, “no
processo de instalação dos aerogeradores, são construídas várias vias de
acesso sob o campo de dunas móveis,
as quais soterram sistemas lacustres. Como as dunas são móveis, elas
estão passando por um processo de fixação artificial. Então, num
primeiro momento, definimos
que os parques eólicos não geram impactos pontuais, mas impactos que
desestruturam a dinâmica ambiental e ecológica de um campo de dunas que,
no Ceará, tem mais de 500 quilômetros de extensão”. Os impactos
ambientais, esclarece, “estão relacionados à completa desestruturação
morfológica, à mudança na paisagem dos campos de dunas, e ao
soterramento das lagoas costeiras. Há uma completa desestruturação
morfológica, porque as dunas estão perdendo sua formação natural, sua mobilidade, e consequentemente perde-se a função de amenizar processos erosivos”.
Meireles acentua o potencial energético dos parques eólicos, mas adverte que eles devem ser instalados em áreas adequadas. Além disso, propõe um investimento “genuinamente” público. E questiona: “Por que não se constroem parques eólicos para, num primeiro momento, levar energia limpa a milhares de comunidades que têm esse potencial instalado no lado das suas residências? (...) A energia pública, limpa e voltada para a produção comunitária seria uma alternativa extremamente importante e produziria um efeito ambiental e social que conduziria realmente a uma produção sustentável de energia”.
Antônio Jeovah de Andrade Meireles é doutor em Geografia pela Universidade de Barcelona, professor do Departamento de Geografia e dos Programas de Pós-graduação em Geografia e em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Ceará – UFC.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O senhor mencionou recentemente que a instalação dos parques eólicos leva em conta apenas a dimensão econômica, ignorando os custos ambientais desses projetos. Qual é o custo ambiental?
Antônio Jeovah de Andrade Meireles – Nós estamos
elaborando uma série de estudos relacionados aos impactos
socioambientais dos parques eólicos no Ceará. Em relação aos parques que
estão sendo implementados na zona costeira, estamos analisando a forma
de instalação dos aerogeradores
e os impactos ambientais desse sistema. No processo de instalação dos
aerogeradores são construídas várias vias de acesso sob o campo de dunas
móveis, as quais soterram sistemas lacustres. Como as dunas são móveis,
elas estão passando por um processo de fixação artificial. Então, num
primeiro momento, definimos que os parques eólicos não geram impactos
pontuais, mas de impactos que desestruturam a dinâmica ambiental e
ecológica de um campo de dunas, o qual, no Ceará, tem mais de 500
quilômetros de extensão.
Os impactos ambientais estão relacionados à completa desestruturação morfológica, à mudança na paisagem dos campos de dunas e ao soterramento das lagoas costeiras. Há uma completa desestruturação morfológica, porque as dunas estão perdendo sua formação natural, sua mobilidade, e consequentemente perde-se a função de amenizar processos erosivos.
Outra análise diz respeito aos impactos cumulativos. O potencial eólico do Ceará é imenso, de 60 mil megawatt só na planície costeira, mas os parques estão sendo implantados sem análise cumulativa. Quer dizer, o que significa a liberação de licenciamento de um parque eólico, diante do potencial de se instalar 10 ou 20% do potencial eólico do estado, o que equivaleria a duas, três ou quatro mil cata-ventos aerogeradores? Com isso, já construímos outra discussão de como o Estado irá se preparar do ponto de vista estratégico, ambiental e social para a implantação dessa indústria que produz energia eólica, que é muito importante.
O estado do Ceará deve se preparar no sentido de formular políticas públicas que possam definir alternativas tecnológicas para a produção dessa energia. Há uma série de outros impactos que não estão sendo analisados, como os sociais. Os aerogeradores, e toda a área ocupada por eles, geram riscos de morte. Eles ficam em áreas privatizadas, aquelas relacionadas ao usufruto de comunidades tradicionais e comunidades de pescadores. Estamos observando também que os aerogeradores estão sendo construídos em áreas de intensa dinâmica das praias. Para se ter ideia, os parques estão causando a erosão das praias, e o mar já está batendo nos aerogeradores. Já foram construídos muros com blocos de rochas para protegê-los. Além disso, os parques estão sendo construídos em manguezais, dentro de áreas que deveriam ser investidas para potencializar a biodiversidade, uma vez que o sistema manguezal tem uma relação muito estreita com a soberania alimentar dos povos e comunidades tradicionais. Além disso, há os impactos sociais, como a gravidez precoce, o subemprego, porque os parques não geram emprego para as pessoas da comunidade. Centenas de trabalhadores chegam de uma hora para a outra nas comunidades, as quais não estão preparadas para recebê-los, não sabem o que vai acontecer, não têm acesso à informação. Então, cada processo de licenciamento ambiental se fundamenta na inequidade, e não no contrário, na necessidade de equidade socioambiental.
IHU On-Line – As consequências verificadas nesses parques eólicos podem ser aplicadas a outros parques instalados em regiões litorâneas?
Antônio Jeovah de Andrade Meireles – Sim, podem ser verificadas também nos parques que estão sendo instalados na Bahia, os quais têm problemas seríssimos com prostituição infantil. Os filhos de mulheres das comunidades que se relacionam com trabalhadores que chegam à região são chamados de filhos do vento. No Rio Grande do Norte, dunas e áreas de turismo estão sendo fortemente impactadas.
Consideramos essa fonte energética importante, mas ela deve ser genuinamente pública. Por que não se constroem parques eólicos para, num primeiro momento, levar energia limpa a milhares de comunidades que têm esse potencial instalado no lado das suas residências? Em algumas comunidades, os aerogeradores ficam muito próximos das casas, a 50 ou 60 metros. Os moradores definiram que o barulho dos aerogeradores como um avião que nunca pousa, por conta do barulho constante. Então, a energia pública, limpa e voltada para a produção comunitária seria uma alternativa extremamente importante e produziria um efeito ambiental e social que conduziria realmente a uma produção sustentável de energia.
IHU On-Line – Diante dos impactos ambientais apontados, ainda é viável investir em parques eólicos no país?
Antônio Jeovah de Andrade Meireles – É viável, claro! Desde que se leve em conta condições para se definir áreas mais adequadas, para se produzir uma energia pública com qualidade.
IHU On-Line – Como os parques eólicos têm modificado as regiões onde estão instalados? Quais são as reclamações dos moradores que vivem no litoral cearense?
Antônio Jeovah de Andrade Meireles – Reclamam da utilização e do domínio inadequado de seus territórios, os quais produzem soberania alimentar. Esses territórios estão sendo utilizados e privatizados, minimizando o acesso das comunidades aos locais de pesca, de mariscagem, de lazer. Então, para você ter ideia, algumas indústrias entram com pedido judicial para não pagarem impostos municipais, ICMS... E há também um processo de desinformação: as comunidades não têm informação sobre a área que será utilizada para a implantação dos parques eólicos, nem sobre a forma como eles serão instalados ou quanto tempo ficarão sem acessar as áreas etc.
IHU On-Line – Como o senhor vê a decisão de o governo abrir mão da expansão da matriz energética com base apenas em fontes limpas? Qual o significado dessa mudança no planejamento do plano decenal de energia?
Antônio Jeovah de Andrade Meireles – É uma situação complicada, porque o governo acaba investindo, por exemplo, em energia movida a óleo diesel, a energia derivada de petróleo, em energia movida a carvão mineral. Potencializar a matriz energética à base de petróleo e carvão mineral nos levará a colapsos ambientais, climáticos, gerando cenários de injustiça ambiental.
“Os parques eólicos estão causando a erosão das praias, e o mar já está batendo nos aerogeradores”, alerta o geógrafo.
Confira a entrevista.
Foto: http://www.portaldomar.org.br |
Meireles acentua o potencial energético dos parques eólicos, mas adverte que eles devem ser instalados em áreas adequadas. Além disso, propõe um investimento “genuinamente” público. E questiona: “Por que não se constroem parques eólicos para, num primeiro momento, levar energia limpa a milhares de comunidades que têm esse potencial instalado no lado das suas residências? (...) A energia pública, limpa e voltada para a produção comunitária seria uma alternativa extremamente importante e produziria um efeito ambiental e social que conduziria realmente a uma produção sustentável de energia”.
Antônio Jeovah de Andrade Meireles é doutor em Geografia pela Universidade de Barcelona, professor do Departamento de Geografia e dos Programas de Pós-graduação em Geografia e em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Ceará – UFC.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – O senhor mencionou recentemente que a instalação dos parques eólicos leva em conta apenas a dimensão econômica, ignorando os custos ambientais desses projetos. Qual é o custo ambiental?
Foto: http://impactodastecnologias.webnode.pt |
Os impactos ambientais estão relacionados à completa desestruturação morfológica, à mudança na paisagem dos campos de dunas e ao soterramento das lagoas costeiras. Há uma completa desestruturação morfológica, porque as dunas estão perdendo sua formação natural, sua mobilidade, e consequentemente perde-se a função de amenizar processos erosivos.
Outra análise diz respeito aos impactos cumulativos. O potencial eólico do Ceará é imenso, de 60 mil megawatt só na planície costeira, mas os parques estão sendo implantados sem análise cumulativa. Quer dizer, o que significa a liberação de licenciamento de um parque eólico, diante do potencial de se instalar 10 ou 20% do potencial eólico do estado, o que equivaleria a duas, três ou quatro mil cata-ventos aerogeradores? Com isso, já construímos outra discussão de como o Estado irá se preparar do ponto de vista estratégico, ambiental e social para a implantação dessa indústria que produz energia eólica, que é muito importante.
O estado do Ceará deve se preparar no sentido de formular políticas públicas que possam definir alternativas tecnológicas para a produção dessa energia. Há uma série de outros impactos que não estão sendo analisados, como os sociais. Os aerogeradores, e toda a área ocupada por eles, geram riscos de morte. Eles ficam em áreas privatizadas, aquelas relacionadas ao usufruto de comunidades tradicionais e comunidades de pescadores. Estamos observando também que os aerogeradores estão sendo construídos em áreas de intensa dinâmica das praias. Para se ter ideia, os parques estão causando a erosão das praias, e o mar já está batendo nos aerogeradores. Já foram construídos muros com blocos de rochas para protegê-los. Além disso, os parques estão sendo construídos em manguezais, dentro de áreas que deveriam ser investidas para potencializar a biodiversidade, uma vez que o sistema manguezal tem uma relação muito estreita com a soberania alimentar dos povos e comunidades tradicionais. Além disso, há os impactos sociais, como a gravidez precoce, o subemprego, porque os parques não geram emprego para as pessoas da comunidade. Centenas de trabalhadores chegam de uma hora para a outra nas comunidades, as quais não estão preparadas para recebê-los, não sabem o que vai acontecer, não têm acesso à informação. Então, cada processo de licenciamento ambiental se fundamenta na inequidade, e não no contrário, na necessidade de equidade socioambiental.
IHU On-Line – As consequências verificadas nesses parques eólicos podem ser aplicadas a outros parques instalados em regiões litorâneas?
Antônio Jeovah de Andrade Meireles – Sim, podem ser verificadas também nos parques que estão sendo instalados na Bahia, os quais têm problemas seríssimos com prostituição infantil. Os filhos de mulheres das comunidades que se relacionam com trabalhadores que chegam à região são chamados de filhos do vento. No Rio Grande do Norte, dunas e áreas de turismo estão sendo fortemente impactadas.
Consideramos essa fonte energética importante, mas ela deve ser genuinamente pública. Por que não se constroem parques eólicos para, num primeiro momento, levar energia limpa a milhares de comunidades que têm esse potencial instalado no lado das suas residências? Em algumas comunidades, os aerogeradores ficam muito próximos das casas, a 50 ou 60 metros. Os moradores definiram que o barulho dos aerogeradores como um avião que nunca pousa, por conta do barulho constante. Então, a energia pública, limpa e voltada para a produção comunitária seria uma alternativa extremamente importante e produziria um efeito ambiental e social que conduziria realmente a uma produção sustentável de energia.
IHU On-Line – Diante dos impactos ambientais apontados, ainda é viável investir em parques eólicos no país?
Antônio Jeovah de Andrade Meireles – É viável, claro! Desde que se leve em conta condições para se definir áreas mais adequadas, para se produzir uma energia pública com qualidade.
IHU On-Line – Como os parques eólicos têm modificado as regiões onde estão instalados? Quais são as reclamações dos moradores que vivem no litoral cearense?
Antônio Jeovah de Andrade Meireles – Reclamam da utilização e do domínio inadequado de seus territórios, os quais produzem soberania alimentar. Esses territórios estão sendo utilizados e privatizados, minimizando o acesso das comunidades aos locais de pesca, de mariscagem, de lazer. Então, para você ter ideia, algumas indústrias entram com pedido judicial para não pagarem impostos municipais, ICMS... E há também um processo de desinformação: as comunidades não têm informação sobre a área que será utilizada para a implantação dos parques eólicos, nem sobre a forma como eles serão instalados ou quanto tempo ficarão sem acessar as áreas etc.
IHU On-Line – Como o senhor vê a decisão de o governo abrir mão da expansão da matriz energética com base apenas em fontes limpas? Qual o significado dessa mudança no planejamento do plano decenal de energia?
Antônio Jeovah de Andrade Meireles – É uma situação complicada, porque o governo acaba investindo, por exemplo, em energia movida a óleo diesel, a energia derivada de petróleo, em energia movida a carvão mineral. Potencializar a matriz energética à base de petróleo e carvão mineral nos levará a colapsos ambientais, climáticos, gerando cenários de injustiça ambiental.
terça-feira, 16 de julho de 2013
Caso Central Eólica Trairi
A
Semace licenciou a instalação de uma maquinaria para captação de
energia eólica com 135m de altura e largura de 101m, a qual emite um
ruído de 105dB, num terreno de 125 metros de largura, com base em uma
espécie de "EIA/RIMA padronizado", similar ao que foi apresentado em
outras localidades, logo, sem aderência ou pertinência com a área da
instalação, em Trairi. Isso bem próximo a habitações, havendo delas que
distam apenas 80 metros das gigantescas pás dos aparelhos.
A intervenção violenta e desrespeitosa do caso da Central Eólica Trairi é provavelmente único no mundo.
Além da agressão ambiental, a corrupção moral em alto grau desvaloriza as propriedades vizinhas.
Nenhum país ou instituição, muito menos alguma empresa, tem o direito
de sacrificar o bem estar,segurança e saúde de uma parte da população.
Vamos falar sobre o que acontece ultimamente na Europa:
596 associações em 24 países, vítimas potenciais e atuais de parques
eólicos, iniciaram um procedimento na Corte Européia de Luxemburgo,
alegando a violação da convenção de Aahrus, de 1998, em alguns pontos
que garante o acesso de informação e justiça ambiental.
De um lado, a
desinformação da população e do outro lado ,a forte pressão sobre
políticos e governos - como é ridículo tudo isso!
O sistema todo é baseado no favorecimanto da indústria de energia eólica.
Os impactos
A maior preocupação é quanto ao ruído que aerogeradores desse tamanho produzem, principalmente os de baixa frequência.
Estudos em laboratórios demostram que ruídos de baixas frequência
afetam mais a saúde do que os de frequências mais altas. Ao mesmo tempo,
estes últimos se distribuem por uma distância bem maior. O impacto de
ruídos na saúde provenientes de estradas, ferrovias e da aviação já é
bem estabelecido - o das de aerogeradores, não.
Muitas famílias que
moram perto de parques eólicos somente começam a perceber que são
afetadas quando deixam as suas residências, os sintomas param, e ao
voltarem eles começam novamente. As pessoas também relataram que quando
vivem por um período maior sem a proximidade de aerogeradores se sentem
muito melhores.
Do meu ponto de vista a população não entende os
fatos por atrás do "comércio com o vento": a energia eólica não é um bom
negócio, já pelo fato de que o vento não é constante, e os
aerogeradores produzem uma energia instável, além do que a energia
produzida não pode ser armazenada. Para equilibrar a demanda de energia
as eletrotérmicas têm de ser ligadas e desligadas constantemente. A
perda de energia em consequência do aumento da poluição torna a energia
eólica não benéfica e mais cara para a população
Somente quando esse
problema, de instalarem aerogeradores, vier para perto de sua
residencia, você irá ser confrontado com os fatos, e se outras pessoas
tiverem tempo para olhar detidamente para tais fatos, poderão concordar
com as outras pessoas que já vivem perto desses aerogeradores.
Hoje sou eu, amanhã pode ser você.
(por Frank Leisner)
sábado, 1 de junho de 2013
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